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O olho vê,
a memória revê,
a imaginação trans-vê
É preciso trans-ver o mundo
Manoel de Barros. Poesia falada.
O projeto experimental de extensão Filosofia, Cinema e Educação, coordenado pelos professores Jorge Miranda de Almeida e Itamar Pereira de Aguiar, com a participação de três bolsistas Flávia Carvalho, Mykelle Maya e Eduardo Sampaio e parceria com o Programa Janela Indiscreta, assume a relação entre Filosofia e Cinema como lugar por excelência da prática pedagógica ao estabelecer as relações múltiplas e necessárias no interior das contradições e dos paradoxos que permeiam a fluidez da imagem em movimento e a estratificação do conceito na definição do real, da realidade, do imanente, do transcendente. É uma iniciativa inédita no Estado da Bahia e quer ser uma ferramenta importante na retomada da filosofia no ensino médio, ferramenta que pretende contribuir na construção da consciência crítica, reflexiva e transformadora, condição fundamental para o exercício da autonomia e da construção da cidadania.
O projeto piloto é desenvolvido (em uma primeira etapa) em parceria com duas escolas que ministram aulas de filosofia. Os coordenadores e monitores do projeto durante quatro meses trabalharam no alinhamento teórico do projeto, foram debatidos textos de Deleuze, Merleau-Ponty, Husserl, Sartre, Cabrera, Horkheimer, Marcuse, Kierkegaard e confrontados com filmes como Asas do Desejo de Wim Wenders, Viver de Akira Kurosawa, O olho do diabo de Ingmar Bergman, O quarto verde de Truffaut e Hiroshima mon amour de André Resnais. O objetivo era estabelecer relações, provocações que possibilitassem a desconstrução da linearidade do pensamento, que capacitasse os membros do projeto a ler um filme e ver um conceito na dinâmica do pensar o pensamento.
O projeto prevê um intercâmbio entre a Universidade e a Escola na exibição dos filmes com programação quinzenal. O material filosófico que provocará o debate será construído pelos monitores com supervisão dos coordenadores; músicas, enquetes, imagens, construção de pequenos “doc’s” serão utilizados como recursos metodológicos no desenvolvimento das atividades.
O projeto oferece ao público alvo (alunos e professores do ensino médio), a graduandos e amantes do cinema e da filosofia, estratégias capazes de seduzir o pensamento e o interesse pela filosofia e ao mesmo tempo estabelece as condições necessárias para que se assuma o cinema como dimensão da arte capaz de fornecer ferramentas de construção de conhecimento estético, filosófico e crítico. Por esse motivo, possibilita um encontro fecundo entre a tríade filosofia, educação e cinema, construindo e desconstruindo o ato de pensar, inserindo o movimento do cinema na reflexão filosófica e ao mesmo tempo possibilitando uma nova perspectiva da ética, da cidadania, da responsabilidade, do compromisso com a educação, consigo mesmo e com a comunidade onde está inserido. Introduz na realidade educacional em Vitória da Conquista mais uma possibilidade de construir novas estratégias e metodologias educacionais, possibilitando que a escola promova a partir desse projeto encontros de divulgação, de análise, de reflexão e de crítica sobre o sentido e o significado do próprio ato de educar.
É a partir de Gilles Deleuze que estabelecemos as relações entre Filosofia e Cinema. A maneira nova com que Deleuze afirma que os filósofos Kierkegaard e Nietzsche constroem uma nova filosofia; retira a atividade filosófica da aridez conceitual e a introduz na dinamicidade do movimento, do diálogo íntimo entre a tela e o leitor-telespectador, fazendo da imagem um espelho que fornece matéria prima para a atividade reflexiva e existencial. Nesse sentido ele afirma: “é neste sentido que alguma coisa de completamente novo começa com Kierkegaard e Nietzsche. Eles já não refletem sobre o teatro a maneira hegeliana. Nem mesmo fazem um teatro filosófico. Eles inventam, na filosofia, um incrível equivalente do teatro, fundando, desta maneira, este teatro do futuro e, ao mesmo tempo, uma nova filosofia.” (DELEUZE, 1988, p. 32). Com eles, começa um novo movimento, capaz de “comover o espírito fora de toda representação; trata-se de fazer do próprio movimento uma obra, sem interposição; de substituir representações mediadas por signos diretos, de inventar vibrações, rotações, giros, gravitações, danças ou saltos que atinjam diretamente o espírito”.
É com essa perspectiva que desenvolvemos o projeto de Filosofia, Cinema e Educação e que pretendemos aprender a pensar com os monitores, alunos, curiosos, utilizando como estratégia para que o pensamento a imagem-conceito e o conceito-imagem possam na dinâmica do movimento abrir-se à existência e ao existente na constante busca pelo sentido de ser e tornar-se.
Por Jorge Miranda
Para ler mais um pouco:apresentaçao. uesb.cinema.rar
Parabenizo a iniciativa do grupo (aqui me refiro aos colegas e aos monitores) em desenvolver um projeto dessa natureza.
ResponderExcluirDesde quando coordenei, no âmbito do DFCH, o projeto de extensão "Filosofia e Cinema: estética e racionalidade da imagem", pude perceber o interesse da comunidade (tanto acadêmica quanto extra-UESB)em participar de discussões e reflexões articuladas entre a Filosofia e o Cinema: duas valiosas manifestações do pensamento humano.
Como um pesquisador da atividade cinematográfica, felicito ao grupo a iniciativa de promover um projeto que resgata o valor da arte do cinema não como mera ferramenta da atividade filosófica, mas como viabilizadora desta... e ambas articuladas no processo de formação e emancipação humana.
Sucesso a todos,
Prof. Clédson Miranda
DFCH/UESB
Olá, achei tuo muito legal e bonito e expressivos, sempre em conexões disjuntivas como nos encanta Deleuze!
ResponderExcluirSou professora convidada do DCB e gostaria muito de conversar mais com vocês. Sou da área de Ensino de Biologia e meu grupo de estudos na Unicamp se dedica ao estudo de imagens, educação e estudos pós-estruturalistas, principalmente com Deleuze e Guattari e acho que temos coisas potentes para conversar e rir e criar.
Esqueci de dizer que sou professora convidada da UESC (risos)
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