quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Era uma vez um sertanejo chamado Olney São Paulo.



Conheci Olney São Paulo durante as filmagens de Diamante Bruto em 1977, em Lençóis e, certa feita ouvi de Orlando Senna que Olney criou uma linguagem nordestina para o cinema.

Por: Itamar Aguiar


Olney nasceu nos grotões da caatinga no agreste de Riachão de Jacuipe, interior sertanejo da Bahia. Ainda nos verdes anos da infância ficou órfão de pai. Primogênito de uma família de parcos recursos viu desabar o seu, então, mundo da fantasia e do faz de conta, passando a condição de arrimo da casa. Esta arapuca do destino iria transformar sua circunstância, obrigando-o a trabalhar na tenra idade. Até o final da sua curta existência, foi com o bíblico suor do rosto, sem metáfora, que haveria de prover os seus e com muita ginástica e magia, apascentar os tormentos da sua alma em fogo, enredada pelos feitiços do cinema.

Nos meados da década de 50, a sétima arte, com um bom atraso, daria o ar de sua graça, no que se refere ao ideário da “Semana de Arte Moderna de 22”, como filme: Rio Quarenta Graus, de Nelson Pereira dos Santos. Dividindo águas, o cinema redescobria o Brasil, focando o que cantava Noel Rosa: “São nossas coisas... São coisas nossas...”

Olney, já morando em Feira de Santana, acompanhava os avanços das boas novas do Cinema Novo. O Borba Gato do cinema baiano, Roberto Pires, realizou o primeiro filme, de longa metragem, baiano, Redenção. Todo rodado nos finais de semana, uma vez que não havia profissionalismo neste setor, razão da demora das filmagens. Não podemos perder de vista o clima a favor do cinema baiano, cujo idealista maior foi o crítico/ensaísta, Dr. Walter da Silveira. Foi o mesmo Roberto Pires, inventor de lentes, pau pra toda obra em tudo que fosse ligado arte da imagem em movimento, quem começou a era de ouro, o Ciclo de Cinema Baiano, com o seu segundo longa, A Grande Feira.

Ainda na esteira deste Ciclo cinematográfico, Olney, seguidor da estética do Cinema Novo, o mais intrépido entre os realizadores daquela época intrépida, iria promover um fato inusitado, beirando o assombro, realizaria seu filme de longa metragem. O Grito da Terra, totalmente produzido numa cidade do agreste do interior do Estado, Feira de Santana.

Quando o país foi invadido por suas próprias Forças Armadas, em 1964. Uma pá de cal foi colocada nos sonhos dos cineastas locais. Para driblar estes tempos agônicos, de vacas magérrimas, Os cineastas da província que queriam seguir a carreira, transformaram-se em retirantes, seduzidos por uma tênue luz no fim do túnel, lá pros lados do Sul Maravilha.

Foi justamente na Cidade Maravilhosa... De Encantos Mil... Que eu vim a conhecer Olney, no começo da metade dos anos sessenta. Logo nos tornamos amigos, parceiros, cúmplices, irmãos.

A guisa de um retrato escrito posso desenhar o seguinte: Olney parecia saído das páginas de Graciliano Ramos, um cabra aprumado, sempre orgulhoso da sua origem de catingueiro, cioso do seu sotaque. Aportou trazendo um punhado de filhos pelas mãos, muitas idéias na cabeça e o seu filme, O Grito da Terra, no matulão. Tinha duas características marcantes: A de um amigueiro profissional e a prática do exercício do humor e da solidariedade... Era saudável e terna a sua amizade...

Enquanto Olney seguia seu curso, dando murros em ponta de faca, para ir realizando os seus filmes, os acontecimentos sinistros dos Anos de Chumbo, por conta do seu filme, Manhã Cinzenta, considerado um artefato subversivo, atentatório à ordem vigente. Olney foi seqüestrado, mantido em local ignoto, sofrendo todo tipo de vexames. Mais tarde seria processado, incurso na famigerada “Lei de Segurança Nacional”. Foram mais de 3 anos de perseguição, sofrimento e prejuízos vários. A seqüência destes acontecimentos deixaria uma seqüela gravíssima para a sua saúde, o que tem tudo a ver com a deterioração física que o levaria a uma doença mortal, responsável, pouco tempo depois, pelo seu óbito, na idade precoce dos 42 anos... Neste agosto, dia 07 de 2009, ele estaria completando 73, se vivo fosse.

Na época do passamento, deste nosso saudoso personagem, pertencente aos anais cinematográficos, Glauber Rocha cunhou uma frase contundente e nutrida de verdade: “Olney, martyr do cinema brasyleyro”.

Tuna Espinheira

Tuna Espinheira é cineasta, Roteirista e Diretor do longa metragem: CASCALHO.

E-mail: tunaespinheira@terra.com.br

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Arlindo Machado: O Artista e as Artes Eletrônicas


Entre os dias 27 de Julho a 1° de Agosto aconteceu o V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, em Salvador. Numa das diversas mesas temáticas que aconteceram no evento cujo tema era “O Futuro do Cinema”, nos chamou a atenção justamente a atuação daquele que foi o mediador da mesa, Arlindo Machado*. Sobretudo por este ter feito o verdadeiro papel de um mediador numa mesa redonda, não se limitando a dar noções puramente introdutórias dos palestrantes, função que foi desempenhada com muita dignidade pelo “folder” do evento. Com uma lucidez impressionante, Arlindo soube transcender o papel do mediador pacificador e atuar como um mediador “insuflador”, ou seja, aquele responsável por aguçar polêmicas, suscitar questionamentos, extirpar a passividade tanto dos espectadores quanto dos convidados da mesa. Para tal, iniciou a mesa com uma série de questionamentos, lançou ironias, tocou em temas polêmicos, em fim, tripudiou sobre as nossas mentes de maneira genial.

Entusiasmados pela brilhante participação de Arlindo no Seminário, escolhemos o fragmento de um texto seu produzido para o ciclo de palestras Contatos com Arte e Tecnologia, realizado em agosto e setembro de 2004, onde ele fala sobre o papel do artista na atual conjuntura tecnológica.

Naturalmente, as técnicas, os artifícios, os dispositivos de que se utiliza o artista para conceber, construir e exibir seus trabalhos não são apenas ferramentas inertes, nem mediações inocentes, indiferentes aos resultados, que se poderiam substituir por quaisquer outras. Eles estão carregados de conceitos, eles têm uma história, eles derivam de condições produtivas bem determinadas. As artes eletrônicas, como qualquer arte fortemente determinada pela mediação técnica, colocam o artista diante do desafio permanente de se contrapor ao determinismo tecnológico, de recusar o projeto industrial já embutido nas máquinas e aparelhos, evitando assim que sua obra resulte simplesmente num endosso dos objetivos de produtividade da sociedade tecnológica. Longe de se deixar escravizar pelas normas de trabalho, pelos modos estandardizados de operar e de se relacionar com as máquinas, longe ainda de se deixar seduzir pela festa de efeitos e clichês que atualmente dominam o entretenimento de massa, o artista digno desse nome busca se reapropriar das tecnologias eletrônicas numa perspectiva inovadora, fazendo-as trabalhar em benefício de suas idéias estéticas.

(...) Mais do que nunca, chegou a hora de traçar uma diferença nítida entre o que é, de um lado, a mera produção industrial de desenhos agradáveis para as mídias de massa e, de outro, a busca de uma ética e uma estética para a era eletrônica.

*Arlindo Machado é professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP. È autor, entre outros, dos livros A Ilusão Especular, A Arte do Vídeo, Máquina e Imaginário, Pré-cinemas e Pós-cinemas, A Televisão Levada a Sério, O Quarto Iconoclasmo e El Paisaje Mediático.


terça-feira, 4 de agosto de 2009

PALÍNDROMO




De acordo com o dicionário Houaiss de língua portuguesa Palíndromo significa “palavra ou frase que se pode ler, indiferentemente, da esquerda para direita ou vice-versa”. Assim como a palavra “Roma”, que lida de trás para frente significa “amor”, neste curta metragem a Vida volta sobre seus próprios passos. O absurdo iminente dá lugar a uma extraordinária lógica reversa. Tudo parece fazer sentido, mesmo com todas as leis naturais ao avesso, o ser humano ainda está cheio de significado. Palíndromo subverte o modo de ver o mundo numa busca pelos múltiplos significados das ações humanas, coloca o mundo ao avesso e vai além do habitual.

OBS: As reflexões descritas acima foram fruto do impacto desta obra no meu ser, ou seja, constituem só a minha maneira de ver, que está longe de ser completa. Portanto a sua participação é fundamental para a construção de um conhecimento conjunto mais próximo da completude. Sinta-se livre! E Bom Filme!