terça-feira, 25 de agosto de 2009

Arlindo Machado: O Artista e as Artes Eletrônicas


Entre os dias 27 de Julho a 1° de Agosto aconteceu o V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, em Salvador. Numa das diversas mesas temáticas que aconteceram no evento cujo tema era “O Futuro do Cinema”, nos chamou a atenção justamente a atuação daquele que foi o mediador da mesa, Arlindo Machado*. Sobretudo por este ter feito o verdadeiro papel de um mediador numa mesa redonda, não se limitando a dar noções puramente introdutórias dos palestrantes, função que foi desempenhada com muita dignidade pelo “folder” do evento. Com uma lucidez impressionante, Arlindo soube transcender o papel do mediador pacificador e atuar como um mediador “insuflador”, ou seja, aquele responsável por aguçar polêmicas, suscitar questionamentos, extirpar a passividade tanto dos espectadores quanto dos convidados da mesa. Para tal, iniciou a mesa com uma série de questionamentos, lançou ironias, tocou em temas polêmicos, em fim, tripudiou sobre as nossas mentes de maneira genial.

Entusiasmados pela brilhante participação de Arlindo no Seminário, escolhemos o fragmento de um texto seu produzido para o ciclo de palestras Contatos com Arte e Tecnologia, realizado em agosto e setembro de 2004, onde ele fala sobre o papel do artista na atual conjuntura tecnológica.

Naturalmente, as técnicas, os artifícios, os dispositivos de que se utiliza o artista para conceber, construir e exibir seus trabalhos não são apenas ferramentas inertes, nem mediações inocentes, indiferentes aos resultados, que se poderiam substituir por quaisquer outras. Eles estão carregados de conceitos, eles têm uma história, eles derivam de condições produtivas bem determinadas. As artes eletrônicas, como qualquer arte fortemente determinada pela mediação técnica, colocam o artista diante do desafio permanente de se contrapor ao determinismo tecnológico, de recusar o projeto industrial já embutido nas máquinas e aparelhos, evitando assim que sua obra resulte simplesmente num endosso dos objetivos de produtividade da sociedade tecnológica. Longe de se deixar escravizar pelas normas de trabalho, pelos modos estandardizados de operar e de se relacionar com as máquinas, longe ainda de se deixar seduzir pela festa de efeitos e clichês que atualmente dominam o entretenimento de massa, o artista digno desse nome busca se reapropriar das tecnologias eletrônicas numa perspectiva inovadora, fazendo-as trabalhar em benefício de suas idéias estéticas.

(...) Mais do que nunca, chegou a hora de traçar uma diferença nítida entre o que é, de um lado, a mera produção industrial de desenhos agradáveis para as mídias de massa e, de outro, a busca de uma ética e uma estética para a era eletrônica.

*Arlindo Machado é professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP. È autor, entre outros, dos livros A Ilusão Especular, A Arte do Vídeo, Máquina e Imaginário, Pré-cinemas e Pós-cinemas, A Televisão Levada a Sério, O Quarto Iconoclasmo e El Paisaje Mediático.


Nenhum comentário:

Postar um comentário